domingo, 29 de julho de 2012

AUDIÊNCIA PÚBLICA DA HANTEI/FATMA SOBRE O EIA/RIMA DO EMPREENDIMENTO PONTA DO CORAL, NO CLUBE NOVO HORIZONTE, EM 25.07.12



PÉROLAS DA AUDIÊNCIA PÚBLICA DA HANTEI/FATMA SOBRE O EIA/RIMA DO EMPREENDIMENTO PONTA DO CORAL, NO CLUBE NOVO HORIZONTE, EM 25.07.12

RECEPÇÃO MAJESTOSA COM OSTENSIVA SEGURANÇA

Fixado na grade na entrada do prédio, um banner contendo a logo do empreendimento anunciado a AP ‘em nome da FATMA’. PODE? Seguindo o caminho, uma enorme tenda montada antes do prédio, com mesas de recepção, listas de presença e enorme telão, vigiados por vários ‘seguranças’ – os ‘home de preto’. Mesas com quitutes e muitas muitas garrafas térmicas. Hum, coquetel à vista.

BREVE DESCRIÇÃO DA CENA DO TEATRO

No salão lotado já hora antes, uma horda de ‘fiéis seguidores’ da HANTEI, desde a mais fiel choque-claque do jornaluxo Ilha Capital, até empregados da empresa, clientes, funcionários de empreiteiras contratadas em suas obras, além de incontáveis puxa-sacos de todos os cantos da cidade. Até 'preocupados' do continente.

Gente contra a HANTEI: uma dúzia de gatos pingados, bem menos que no ato de protesto realizado na Ponta do Coral em 23.03.12. O frio espantou nossos aliados? Seria a precária divulgação da AP? Seria o temor de enfrentar os bruta montes da choque-claque da HANTEI ? Balanço das forças: 5 para a HANTEI, 1 para nós, na melhor das hipóteses. Lamentos a parte, está na média de costume.

Regimento da AP armado em comum acordo entre a FATMA e a empresa, visando favorecê-la, no qual a RÉPLICA de 2 minutos virou, segundo a interpretação dos jurisconsultos, tempo de resposta para a empresa, ao invés de tempo para quem fala depois da resposta da mesma – uma inusitada ‘inovação’ epistemológica e conceitual do termo réplica. Murilo Flores é forte candidato para cadeira na Academia Catarinense de Letras, juntamente com o advogado da empresa e o diretor de licenciamento da FATMA. Componentes da mesa, este garboso trio além do ‘dono maior’ da empresa e o apresentador da consultoria que fez o EIA/RIMA para ‘tentar justificar’ o projeto.

A DINÂMICA DO EVENTO EM TOM DE FOLCLORE

Candidatos a vereador se apresentando ao público como tal. Certamente perderam mais votos que ganharam. Ficou visível que lhes faltou alguma ‘assessoria política’. Se ficassem quietos, talvez...
Casal de idosos, sentado ao meu lado, auto-proclamado ‘manezinho da ilha’, defenestrando em altos brados um professor que leciona para seu neto na escola do bairro local, dizendo que o tirará da escola porque o professor é contra o projeto. Uma tristeza só... Dá o que pensar. Perplexidade !!

Uma hora de apresentação do projeto por parte da empresa, somente propaganda, e da empresa que elaborou o EIA-RIMA, três vezes mais tempo de pura propaganda ‘recheada’ com vocabulário técnico, porém adaptada para propiciar “fácil entendimento” por parte do ‘público leigo’. Ganhará um prêmio ambiental da FIESC pela performance, pois conseguiu apresentar seu ‘produto’ exatamente no tempo determinado pelo programa: 45 minutos cravados. APLAUDIDÍSSIMO por ambos os feitos.

Várias mesas cheias de quitutes, refrigerantes e cafés, possível gesto de ‘simbólico agradinho’ aos convidados da HANTEI. Devastadas pelos ‘famintos’, delas não sobrou nada comível em cima.

Divo Tirloni, da ACIF, ‘dando aula’ de desenvolvimento sustentável, invocando o padre Wilson Groh e outros eco-filantropos, além de explicar o tripé desse conceito ‘complexo’, segundo ele: social, econômico e ambiental, ‘totalmente desconhecido’ para nós ecologistas... Candidato ao título de ‘porta-voz’ do ambientalismo catarinense. APLAUDIDÍSSIMO pela choque-claque e que arrancou insuspeitos suspiros por parte de alguns ‘ambientalistas meio confusos’ presentes no eco-evento. Pode render casamento...

Pescadores artesanais comprados mediante um “termo de concordância de realocação” feito pela HANTEI com os ‘posseiros’ dos barracos de pesca naquele istmo, vociferando impropérios impronunciáveis e impublicáveis a todo santo que se opunha ao projeto, quando não chamado ostensivamente ‘para o pau’, no velho estilo mui macho ‘vem aqui se é homem’ !!! Criaram vários ‘rolos’ ao longo da AP com suas ‘delicadas’ provocações aos ‘arquiinimigos da pesca artesanal’ e de todos aqueles que 'trabalham'.

O melhor defensor da HANTEI não foi de nem longe o empresário ou o apresentador do EIA/RIMA, mas sim o advogado da empresa, que, se valendo dos 2 minutos a ‘título de réplica’, conforme disposição regimental ‘petrificada’ pela FATMA logo no início dos trabalhos, via de regra desmontava os argumentos contrários ao empreendimento, seguida por uma estrondosa ovação. Foi o ‘herói da HANTEI’ que indubitavelmente roubou a cena. Certamente deverá ganhar mais, além de conquistar novos clientes para sua banca. É o único que, com toda certeza, saiu do evento ‘no lucro’. Ganha sempre: antes, durante e depois do projeto.

NOVES FORA DESTA E DE OUTRAS PATIFARIAS

Em suma, um circo, como todos os demais, não para debater EIA/RIMA, mas para consolidar uma chancela ao empreendimento por parte da ‘opinião pública’, reiteradamente lembrada como sendo a favor do projeto na proporção de 84%, com base em pesquisas encomendadas pela própria empresa. REPRISE, PORÉM EM DIMENSÃO MENOR, DA AUDIÊNCIA DA OSX EM JURERÊ. Porém lá, em equilíbrio de forças.

Na linha de “audiência não é anuência”, a forma como a FATMA orquestra esses eventos tem que ser totalmente modificada em sua metodologia com vistas a efetivar o seu objetivo. Como está, é mera propaganda do projeto. Em função disso, o melhor seria propor um projeto de lei estadual que ‘regulamentasse’ as APs para discussão de EIA/RIMA, que, entre outras medidas, daria o mesmo tempo que a empresa dispõem, para uma equipe de especialistas independentes, assim como tempo de apresentação das propostas alternativas ao projeto por parte de entidades ecológicas e comunitárias presentes na região de influência, que o excluem por completo, como é o caso da criação do Parque Cultural das Três Pontas. Constatação óbvia é que, infelizmente, não há deputados à altura dessa tarefa em SC – ‘PEITAR’ O CAPITAL IIMOBILIÁRIO ESPECULATIVO. Na eterna 'dependência' de aportes para campanha..

A ‘maquiagem verde’ ganha contornos mais sofisticados não somente mediante a apresentação de projetos dessa ‘natureza’, como também por parte dos discursos que partem de lideranças empresariais, consolidando o processo de cooptação de linguagem, esvaziamento do discurso e banalização das propostas do movimento ecológico. O projeto ‘é vendido’ como uma ‘solução sócio-ambiental’, não como agressão ecológica, cultural e social que é de fato. Em meio ao mar de ignorância, despolitização e imobilismo reinante, é um instrumento de enorme eficiência cultural anti-ecológica. Quase 'imbatível'.

Em época de total patrolagem desenvolvimentista, colocar-se contra o interesse do capital é cometer ‘pecado capital’, e o interesse privado ganha sempre diante do interesse público, sendo este tomado como justificativa ao projeto, ao invés do ganho privado da empresa imobiliária, em total inversão de atores e valores. Evidencia que o neo-liberalismo reina como nunca nos dias atuais em nosso país. Era 'lula-dilma'.

Salvo raras exceções, os órgãos públicos ligados à defesa ambiental se apresentando em postura totalmente omissa, subserviente e incompetente para dar conta das questões mais elementares do ponto de vista da defesa do interesse público, sequer capazes de impor seus pareceres e opiniões numa AP que debate o mérito do projeto e suas possíveis conseqüências. Em todos os sentidos, LAMENTÁVEL !!! 

Sob esse prisma, noves fora: “governantes de merda, elite de bosta, e vice-versa”.

Gert Schinke
(Presidente do INMMAR)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

COMISSÃO INTERNACIONAL NEGA SANTUÁRIO DE BALEIAS


03/07/2012   -  Autor: Fernanda B. Müller   -   Fonte: Instituto CarbonoBrasil
Sob acusações de compras de votos por parte do Japão, criação de área de proteção no Atlântico Sul não alcança o apoio necessário e não é aprovada, colocando os cetáceos em risco durante pelo menos mais um ano

A 64° reunião da Comissão Baleeira Internacional (CBI), integrada por 88 países, decidiu em uma votação na tarde de segunda-feira (2) pela não criação do Santuário Baleeiro do Atlântico Sul, uma derrota amargada por ambientalistas que lutam há doze anos pela proteção dos cetáceos.
Quem acompanha, mesmo que de longe, a evolução das negociações internacionais envolvendo animais marinhos e sua exploração comercial sabe bem que o ambiente é cercado de controvérsias e denúncias de compra de votos em benefícios de países com grande poder de barganha, como o Japão.
Uma das propostas, que entrou na pauta da votação já no primeiro dia de deliberações da CBI e é apresentada desde 2001, é a criação do Santuário Baleeiro do Atlântico Sul, seguindo o caminho de outras regiões como o Oceano Índico, que tem suas águas protegidas desde 1979, e o Austral, desde 2001.
"Infelizmente, na 64° Reunião da CIB não se conseguiu aprovar o Santuário de Baleias no Atlântico Sul. A votação foi 38 a favor, 21 contra e 2 abstenções [precisava de 75% para a aprovação]. O Japão comprou votos de países menores e impediu a criação", denuncia José Truda Palazzo Jr, diretor do escritório brasileiro do Centro de Conservação Cetácea (CCC), que está no Panamá acompanhando a reunião.
A proposta, que visa proteger mais de 50 espécies de cetáceos, é encabeçada por países latinoamericanos conhecidos como Grupo Buenos Aires (GBA), liderado por Brasil e Argentina. Ela pode ser colocada novamente no próximo ano, esclarece Truda.
Apesar de a maioria dos membros da CBI apoiarem a sua criação, os países com interesses baleeiros têm barrado a proposta.
Para Truda, faltou empenho por parte do Brasil para pressionar os países que são contra a criação do santuário. Ele ressalta que o Ministério do Meio Ambiente não fez "nada" e o Ministério das Relações Exteriores "fez muito pouco do seu dever de casa".
Na reunião da CIB do ano passado, no Reino Unido, vinte países liderados pelo Japão, entre eles Noruega e Islândia, obstruíram, por falta de quórum, uma votação objetivando a criação do santuário.
Cotas
Denúncias de que o Japão tem comprado votos de algumas nações caribenhas e africanas são recorrentes e permeiam outro assunto complicado em discussão na CBI, as cotas e a moratória para a caça de baleias.
Uma reportagem do jornal britânico The Sunday Times comprovou no ano passado a compra dos votos de países como Kiribati, Ilhas Marshall e Tanzânia. Os repórteres se passaram por bilionários conservacionistas oferecendo quantias em dinheiro para os mesmos países votarem contra as diretrizes japonesas.
Entre 2008 e 2010, os Estados Unidos, através do processo de negociação chamado 'O futuro da CBI', buscou eliminar a moratória global sobre a caça comercial e legitimar a matança de baleias para "supostos fins científicos incluindo as zonas designadas santuários", denuncia a CCC. A iniciativa foi votada e não conseguiu apoio suficiente.
Porém, outras propostas estão no centro dos debates atuais sob as chamadas 'cotas para subsistência aborígene', renovadas a cada cinco anos com o objetivo de suprir a necessidade nutricional de povos tradicionais do Alasca, Rússia, Groenlândia e Caribe (St. Vincent e Grenadines).
"Até 2012, a renovação destas cotas não gerava grandes debates fora da CIB e eram geralmente adotadas por consenso. Porém, a crescente natureza comercial das caçadas pela Groenlândia e infrações sistemáticas das regras da CIB por St. Vincent e Grenadines (ex. caça de mães e filhotes) levaram a questionamentos sobre os reais interesses por trás da renovação de tais cotas", explica o CCC.
A ONG denuncia que os nativos das ilhas caribenhas não praticavam a caça da baleia, que foi introduzida por norte-americanos e que as ilhas seriam um dos alvos da compra de votos pelo Japão. Outras denúncias sérias da Sociedade de Conservação das Baleias e Golfinhos envolvem avenda de carne de baleia em hotéis, restaurantes e supermercados.
John Frizell, ativista do Greenpeace, pondera :"Nunca fomos contra estas cotas já que é a caça comercial industrializada que tem acabado com as populações, não a tradicional, mas esta caça se tornou uma ferramenta política para aqueles que buscam retomar a caça comercial, uma chance de envergonhar países como os Estados Unidos que se opõe fortemente à caça comercial, mas também tem muita caça tradicional".
Segundo Frizell, Mônaco colocou na mesa para discussão uma resolução que convida a Organização das Nações Unidas a entrar nos debates sobre outro problema crítico, a dita 'caça para fins científicos', realizada descaradamente pelo Japão nos cetáceos no santuário de baleias do oceano austral devido a brechas nas regras da CIB.
Como o Japão tem direito de se auto-outorgar as quotas, esta é uma discussão extremamente complicada no âmbito da CIB, e que é alvo de campanhas anuais da ONG Sea Shepherd.
Há quase dois meses, Paul Watson, fundador da Sea Shepherd, está preso na Alemanha devido a um mandado de prisão emitido na Costa Rica, onde ele encabeçou uma operação contra a retirada ilegal de barbatanas de tubarão. Chamada 'finning', a prática é extremamente cruel com os animais. A ONG está pedindo apoio para impedir a extradição de Watson para a Costa Rica.
Propostas
Em meio a um mar de interesses econômicos, ambientalistas tentam mostrar iniciativas eficientes, a exemplo do desenvolvimento de atividades de observação de baleias, como uma alternativa de renda para comunidades, como as caribenhas, algo já implementado com sucesso em muitos países.
"Com um crescimento anual de mais de 11% e a geração de mais de dois bilhões de dólares ao ano, o uso não-letal de baleias está se consolidando como uma atividade elementar em direção ao desenvolvimento sustentável de comunidades costeiras".
Entretanto, como as baleias são migratórias, se há matança de uma espécie na Noruega de forma a impactar as populações que impulsionam o turimo de observação no Caribe, a atividade corre sério risco de não mais aportar esta alternativa para as populações locais.

Truda acredita que não existe solução para que atual processo da CIB seja mais eficiente.
"Teria que se criar outro acordo internacional decente e moderno, mas cadê a vontade política pra fazer isso?", lamenta.
Nesta semana, o WWF Canadá lançou uma proposta visando a criação de uma instituição financeira para a recuperação dos ecossistemas marinhos (FIRME, em inglês) e que custearia a conservação dos estoques pesqueiros globais.
A ONG sugere que os subsídios governamentais de suporte à indústria pesqueira (entre US$ 25 bilhões e US$ 50 bilhões anuais) fossem redirecionados para o FIRME, que poderia ser usado para apoiar empresas e comunidades que dependem da pesca enquanto os estoques se recuperam. Discussões já estão sendo conduzidas pelo WWF neste sentido.
"Ao fornecer empréstimos para cobrir os custos iniciais da conservação, o FIRME permitirá a recuperação dos estoques e gerará lucros que excedem os investimentos originais", enfatizou Robert Rangeley, vice-presidente do WWF Canadá.
Imagem: Greenpeace